Tem uma coisa que há algum tempo está latejando aqui nessa velha mente. Na verdade são várias, mas algumas delas giram em torno de um mesmo tema (e as outras ficam para depois, por enquanto).


Lembro de uma época em que (quase) todo músico na Bahia vivia o dilema de se “vender” e ir tocar em alguma banda de axé ou continuar investindo na música que desejava, ignorando a propalada “music” fomentada nas entranhas da WR, vestindo sua indumentária de artista e encarando os percalços desta escolha, tal qual um Quixote sonhador.

Não eram bons tempos. Ou, se eram, não percebíamos (e coloco-me nessa horda, apesar de não ter vivido esse dilema, pois logo cedo desisti de tocar qualquer instrumento e passei a tentar cantar (e cantar não era algo que se podia fazer escondido (quase nos bastidores do palco) ou se afastando da beirada do trio elétrico para não ser reconhecido por algum amigo (imaginem esse que vos escreve sendo um puxador de trio??!! (seja lá o que seja isso… (quer saber?? pergunte a Chaves… não… não ao venezuelano ou ao alter ego de Chapolin… ao outro))))).

Sim… Os tempos não eram bons ou ruins. Eram apenas nossos tempos… nosso tempo.

Grance sucesso do axé oitentista...

E o tempo passou, e o que era o inimigo (sim… inimigo… não me venham com amenidades) começou a demonstrar sinais de fraqueza.

E, eis que tal qual o menino desavisado que chuta cachorro morto e depois tem que aguentar o mau cheiro, alguns honoráveis (e alguns não tão honoráveis) representantes daquela (nossa) geração adepta do “cervantismo” começaram a esquecer das velhas batalhas e passaram a “sempre curtir” os hinos da protoaxé e depois do axé-primeira-fase.

Aí vieram festinhas em casas de amigos, festinhas em boates… todas (ou quase) com um axézinho desfilando quase despercebido. E tome-lhe bundinha pra lá… “Chiclete no início era legal”… Um ti-ti-ti-ti ti-ti, vou me debochar por aí… “banda Reflexus era massa”… Ou seja, o axé começou a ganhar ares de cult… ou cool.

Sempre tinha aquele que vinha com o papo de que o “axé de antigamente” não era tão ruim assim… e, perto do que se faz hoje, até dá para curtir… Pior que muitos desses que lançavam (e lançam) esse argumento eram (e são) os mesmos que acusavam (e acusam) toda pessoa que afirma preferir o rock do passado de retrógrados, ou, simplesmente, saudosistas (Quantas dessas pessoas já não me disseram que eu tenho que perceber que o rock de hoje também é bom (muitas vezes melhor), que eu é que não sei escutar o rock new generation, que sou parado no tempo… um saudosista!!)


Até aí tudo bem…

Tudo bem uma ova!!! (expressão louca!! alguém explica por que “ova”??)

Sim… Tudo bem uma ova!!!

Isso tudo sempre me deu nos nervos… Axé velho, novo, proto, pré… seja lá de que época… sempre foi uma merda… ou seja cool mesmo (leia-se “cu”). E não é porque hoje conseguem ser piores ou porque fiquei velho e essas musiquinhas bizonhas me lembram a adolescência que passarei a gostar.


Sim…

O mais puro rock'n'roll...

Mas como estamos sempre sujeitos a “Lady Murphy”… o urubu de baixo cagou no de cima. E o que eram apenas musiquinhas relembradas em festinhas começaram a invadir os palcos de Salvador (palcos e degraus… afinal, na maioria das casas desta soterópolis o que temos é um degrau com uma banda em cima… e isso quando temos o degrau).

No início era uma brincadeirinha em meio ao repertório “sério”, depois a brincadeirinha começou a ser levada a sério… e deu no que deu!!!

Hoje temos um bando de gente se curvando à sonoridade infame de suas infâncias e adolescências, incorporando as sonoridades do outrora inimigo. E o pior, o público, que já achava legal relembrar o axé cool nas festinhas, também incorporou tudo isso numa boa.

Não, não meus amigos. Sou saudosista. Gosto e quero rock como antigamente. Seja nos palcos, nos degraus ou nos trios. Já me irritava rock com maracatu, já me irritava rock com sambinha, e me irrita mais ainda rock com batuquinhos e tingue-lingues da baianidade nagô. Não sou adepto de misturas. Para mim é sempre cachaça (ou vodka) pura… sem limão, sem mel nem açúcar.

O que me consola é saber que os bravos guerreiros de outrora estão velhos (e talvez gagás) e por isso se esqueceram e amoleceram com o inimigo. É saber que ainda existem jovens por aí com guitarras em punho e pedais podres para fazer o rock rolar (tudo bem… há um bando desses com franjinhas na cara e letras de Chitãozinho e Xororó, ou com os choramingos dos Hermanos, mas embaixo de toda essa choradeira ainda existe uma garotada fazendo rock de verdade).


É… Talvez eu seja o último saudosista… dono de uma adolescência tardia que ainda me liga ao bom e velho rock’n’roll.

Mas a sensação que tenho é que aquela máxima de “se não pode vencê-los, junte-se a eles” caiu como uma luva sobre minha geração.

Bravo, minha Bahia!!!


ósculos e amplexos a todas e todos

L~
… pós-axé uma caceta!!! O único Pós que gosto fica no Red River…